sábado, setembro 08, 2012

Universal, para todos Necitta sangue bom. Algo surpreendente me aconteceu ao abrir a Veja, revista da última semana de agosto. Geralmente não vejo a Veja, por considerá-la uma leitura tendenciosa, emotiva, alarmista, reaça demais. Mas eis que ela me chega as mãos com a manchetinha (a grande, de capa, era sobre as vantagens de falar inglês ) sobre as cotas para negros e Índios que seria votada na próxima semana. Me deparo: “UNIVERSIDADES. Porque a nova lei de cotas vai fazer o país andar para trás” My God!(inglish plisss) pensei, os dramáticos alarmando nossa elite branca, clássica, erudita e temerosa de perder seus privilégios... Incrível! Não encontrei nenhum dado contra a política, lendo, era incrível mesmo, como pode uma revista ser tão genialmente escrita que mesmo mostrando estudos positivos, afirma que é um atraso? Me animei, até me diverti com o raciocínio torto de quem claramente escreve com uma intenção e se diz imparcial. Caros leitores, não precisam concordar com as opiniões, mas é urgente que se acabe com a ingênua ideia de que jornalismo é imparcial. Se alguém escreve, é do seu ponto de vista que o faz. Ao leitor cabe procurá-lo, caso não esteja declarado. O ponto de vista da matéria é o mesmo massacrado à exaustão na maioria dos debates sobre o assunto: de que seria uma reparação às injustiças sociais, no caso, à escravidão. Isso gera, realmente, polêmica. Os descendentes de imigrantes, que chegaram por aqui em meio à abolição e chegaram pobres, se ouriçam e o sangue ferve! Compreensível. A elite culpada pela tal dívida, logo trata de falar, nas palavras de Veja: “O círculo vicioso que destina aos ricos ( e brancos ) a maior parte dos lugares nas universidades públicas-sustentadas com o dinheiro de todos os contribuintes, incluindo negros e pobres - tem que ser quebrado”. É uma ideia boa. ( eles usam muito as palavras boa, ruim, má, típicas de pessoas não comprometidas com a lucidez pois são conceitos vagos, relativos ). Lá no começo, na Carta ao Leitor, o engodo é armado e permeia todo o texto:“A principal função da universidade é produzir conhecimento ou reparar injustiças sociais e iniquidades históricas, como a escravidão?” “ se sancionada a Lei de Cotas, ... clara a escolha do governo pela segunda opção” Well, well, vamos por parte: o que seria produzir conhecimento? Do meu ponto de vista, e creio ser razoável, seria juntar o povo, os habitantes de um local, juntar suas experiências, e ocasionar insights, ideias geradas às vezes por um, mas em meio ao todo. All right? Me parece, melhor, fica claro, que o ponto de vista da Veja e de todos que morrem de medo de misturar as gentes do Brasil no local onde se fecunda a intelectualidade de um país, as pesquisas, os novos rumos, enfim, o padrão de ser de um povo, para esses, produzir conhecimento seja ser capaz de memorizar e ser repeteco da forma de pensar europeia. Ou norte americana. A elite sempre teve por premissa fingir que não é daqui. O chique, o culto, o inteligente é de outro lugar, do explorador que nos vê como colônia. A questão maior e mais profunda, não é reparar injustiças históricas e sermos bonzinhos com índios e negros e pobres. A questão é SE OLHAR NO ESPELHO e tomar consciência na cara. PRECISAMOS colorir a nossa “intelligentsia”, pois somos multiculturais, mistureba geral! Macacos me mordam, mas a Europa não deu certo, americanos não são exemplo de desenvolvimento sustentável, nem a China. Nós podemos ser. Mas precisamos nos conhecer e então produzir um conhecimento efetivo. Ponto para o governo, essa é a função da universidade, o final do parágrafo é opinião da revista que entrevista economista especialista em educação para opinar. Economista. Não entrevista ninguém a favor das cotas. E isso é ser sério e imparcial. Tá. Seguimos: “comprometer a excelência do ensino e da pesquisa, já que , por definição, os cotistas são mais mal preparados que do que os não cotistas”. Well, well, há exceções, eu sei disso, e muitas...então esse troço de por definição, é opinião discutível. “a lei corrige na ponta o que deveria ser resolvido na base”. People, onde está a base? Não seria na produção do conhecimento, no pensamento, lá na universidade? Novamente, típico do padrão linear, europeu, cartesiano, diabo a quatro. “se tivéssemos um ensino básico decente, esses alunos conseguiriam competir de igual para igual com os alunos das particulares”.Oh,Lord, por que precisamos competir por vagas? Gostaria de saber por que não há vagas para todos na Universidade, se é obrigatório até o médio. Isso ouvi de Juremir Machado, questionando aqui em Lagoa, e não obtive resposta. “A lei de Cotas põe o peso da correção de injustiças sobre a universidade, atitude populistas que traduz a visão de que o conhecimento não tem importância”. Help! Help! Uma reafirmação do engodo largado no início, sobre o que é conhecimento, para deixar claro que “só é possível filosofar em alemão” como canta Caetano. Veja delira, mas ardilosamente, com cara de sensata... Mas eu disse que a reportagem traz boas novas, e apesar da loucura deles, fico com os dados que forneceram. Com vocês, o que interessa da matéria: -Há estudos que apontam que ao misturar alunos mais preparados , com alunos menos preparados (aqui Veja afirma que 100% dos primeiros vem de particulares e 100% dos segundos vêm da rede pública. Será?) enfim, que os primeiros “puxam” os segundos para cima. A experiência poderá confirmar. - O Brasil tem hoje 2341 instituições de ensino superior. Apenas 59 serão afetadas pela Lei das Cotas. (Por que o drama?) - As federais são a mais importante usinas de descobertas científicas, conhecimento e pesquisa no Brasil. Nenhuma particular entrou no ranking. (ah, taí a explicação ) - A tendência será que muitos pais tirem seus filhos de escolas particulares para colocá-los nas públicas. Isso levaria a um aumento da cobrança de qualidade por parte de uma parcela da população com maior poder de reivindicação e a uma consequente melhora do ensino. Apesar da Veja duvidar que isso ocorra, foi exatamente o que uma professora me falou estar acontecendo no Araby Nácul. - Há estudos indicando que o desempenho dos cotistas, no fim do curso, é semelhante ao dos alunos que entraram pela via normal. Para mim, tá suficiente. Viva a Veja.